O yoga entrou na vida de Ricardo Mitra quase por acaso. Adolescente alto demais para as cadeiras da escola, com dores na coluna e pouca afinidade com musculação, ele buscava alternativas para cuidar do corpo. Foi ao fim de um relacionamento, aos 20 anos, que decidiu experimentar uma aula de yoga. O impacto foi imediato: “naquele momento eu sabia que tinha encontrado algo que ficaria comigo para o resto da vida”, relembra.
O que começou como prática física logo se transformou em um mergulho profundo. Os exercícios de respiração, o contato com a filosofia do Ayurveda e, mais tarde, a meditação abriram caminhos de autoconhecimento. A partir dali, Ricardo percebeu que não se tratava apenas de movimento corporal era uma nova forma de se relacionar com a vida.
O que começou como prática física logo se transformou em um mergulho profundo. Os exercícios de respiração, o contato com a filosofia do Ayurveda e, mais tarde, a meditação abriram caminhos de autoconhecimento. A partir dali, Ricardo percebeu que não se tratava apenas de movimento corporal era uma nova forma de se relacionar com a vida.
Do Tapetinho para a Tela
Em 2015, Ricardo e sua esposa decidiram transformar esse conhecimento em algo acessível a mais pessoas. A inspiração surgiu de maneira curiosa: depois de assistir ao filme Um Senhor Estagiário, em que a personagem principal cria um negócio online, os dois passaram a noite discutindo possibilidades. “Percebi que meu trabalho era restrito às pessoas do bairro, mas a internet poderia abrir essa experiência para o mundo”, conta.
Nascia ali o projeto Yoga Para Você, cujo primeiro vídeo foi ao ar em 2016. A ideia era simples e poderosa: mostrar que o yoga não é exclusivo. Qualquer pessoa, independentemente do corpo, da idade ou da rotina, poderia praticar. “Muita gente achava que yoga não era para ela. Então oferecemos um primeiro contato pela meditação guiada, que exige apenas fechar os olhos e acompanhar a instrução. Aos poucos, a audiência entendeu que era viável, simples e transformador”.
Hoje, o canal soma mais de 500 mil inscritos no YouTube, tornando-se um dos principais portais de yoga e meditação no Brasil.
Natureza, Mente e Presença
Para Ricardo, a meditação é mais que uma prática: é uma ferramenta para reencontrar o equilíbrio em tempos de aceleração. “Vivemos identificados demais com nossos pensamentos. Quem vive só no passado cai na melancolia; quem vive só no futuro sofre com ansiedade. Estar presente significa ancorar-se no agora, reconectar-se com o corpo e com as emoções que se manifestam neste instante”, explica.
Ele vê na natureza uma aliada poderosa nesse processo. “Ir para a natureza é uma porta de entrada. Mas não basta apenas estar lá é preciso ir com a intenção de escutar o corpo, entender nossas necessidades físicas, mentais e emocionais. Esse olhar atento nos reconecta com a nossa própria natureza”.
Essa experiência, segundo ele, pode se aproximar do que atletas relatam em práticas outdoor, como corrida em trilha ou mountain bike: a sensação de “esvaziamento da mente”. Um estado que lembra o flow descrito na psicologia esportiva, em que corpo e mente fluem juntos.
Meditação para Todos
Entre tantas dúvidas comuns, uma das principais é sobre tempo: afinal, existe um ideal para meditar? Ricardo é direto: “o que realmente importa é a constância, não a duração. Nossa recomendação é começar com 5 minutos. Esse já é o tempo mínimo para surtir efeito. Depois, gradualmente, a prática pode crescer de acordo com cada pessoa”.
Na visão dele, a meditação é como treinamento físico, mas para a mente. Exige disciplina, repetição e, sobretudo, paciência. “No mundo do imediatismo, em que tudo precisa ser para ontem, a meditação ensina a lidar com processos de médio e longo prazo. Ajuda a criar clareza, força e autodeterminação para seguir objetivos que realmente importam”.
O Legado do Silêncio
Ao final da conversa, fica evidente que a jornada de Ricardo Mitra é sobre mais do que yoga ou meditação. É sobre cultivar presença em um mundo de distrações, oferecer ferramentas acessíveis para que qualquer pessoa possa começar e mostrar que o silêncio também pode ser revolucionário.
“Somos a consciência que observa a mente, não somos a mente. Quando entendemos isso, a vida flui com mais leveza. E a meditação é o caminho para lembrar desse simples, mas poderoso, detalhe”, resume.
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